terça-feira, 7 de janeiro de 2014

A ORIGEM DAS ARTES MARCIAIS



A HISTÓRIA QUE POUCOS CONHECEM

A origem das Artes Marciais está associada com o desenvolvimento da civilização e com o desenvolvimento da agricultura; onde alguém começa a acumular riqueza e poder e com isso surge cobiça, inveja e consequentemente a ira e a agressão física.

A necessidade abriu espaço para a busca da proteção pessoal. A versão mais conhecida da arte marcial, principalmente na história oriental, tem como personagem principal o monge indiano conhecido como Bodhidharma que, em viagem à China no século VI A.C. orientou os monges chineses na prática do Yoga e rudimentos da arte marcial indiana, o que caracterizou posteriormente na criação de um estilo próprio pelos monges de Shaolin. Estudiosos consideram essa alegação com considerável ceticismo, já que através da tradição oral, notas históricas e escavações arqueológicas são relatadas origens mais antigas de algumas técnicas e escolas chinesas. Sabe-se hoje, que o histórico de guerras na China conta seu início há aproximadamente 5000 mil anos e até antes da China, e de lá estes conhecimentos se expandiram por quase toda  a Ásia e, consequentemente pelo mundo.

O Japão e a Coréia também possuem tradições milenares em artes marciais. No Japão, destaca-se o Judô, o Karatê e seus estilos, o Jiu-jítsu, o Kendô, o Aiquidô, etc.

Recentes descobertas arqueológicas também mostram guardas pessoais na Mesopotâmia e de regiões do Oriente Médio praticando técnicas de defesa e de imobilização de agressores que eram conhecidas apenas como técnicas de guerra. De igual maneira, o mundo ocidental desenvolveu outros sistemas de combate.

Apesar de existirem diversos sistemas distintos de classificação dos estilos de arte marcial, e adotados por diferentes culturas em momentos históricos específicos, o berço da maioria das artes marciais e técnicas de combate se encontrem na China, Japão, Índia e Mesopotâmia.

 ESTILOS DE ARTES MARCIAIS CHINESAS

 Diferentes estilos de artes marciais chinesas foram desenvolvidos nos últimos 2.000 anos. Diversos estilos distintos traziam seus próprios conjuntos de técnicas e ideias. Há também diversos temas comuns entre estilos, o que levou muitos a caracterizá-los como pertencentes a “famílias” (家 – Jiā) de artes marciais. Há estilos que imitam movimentos de animais e outros que reúnem inspiração de diversas filosofias chinesas. Alguns estilos se concentram totalmente na crença de controlar a energia Qi, Chi ou Ki (気), enquanto outros focam totalmente em competições e exibições. Muitos estilos, também, fazem uso de um vasto arsenal de armas chinesas.

As artes marciais chinesas podem ser divididas em duas grandes categorias: externas e internas. A diferença está em que tipo de treinamento seu foco principal compreende, mesmo que a maioria dos estilos deveria conter ambos os elementos internos e externos, na prática isto não se revela, cada um tende a se concentrar em um dos polos, devido à dificuldade de entender o que seja interno.

Os estilos externos podem ainda ser divididos entre do norte e do sul, se referindo a que parte da China que os estilos vieram (utilizando Rio Yangtze, ou Chang Jiang, como referência).

 Estilos Externos das Artes Marciais Chinesas (外家 – Wài jiā)

Estes estilos são o que a maioria das pessoas associa com as artes marciais chinesas. Os estilos são geralmente rápidos e explosivos, com foco na força física e agilidade.

Estilos externos podem ser tanto os estilos tradicionais, que focam na aplicação e na luta, como também os estilos modernos, adaptados para competições e exercícios. Exemplos de estilos externos são Wing Chun, que enfatiza socos e bloqueios curtos, Shaolin Quan, com seus ataques explosivos e chutes altos que se parecem com o Tae Kwon Do coreano, e também muitos estilos inspirados por movimentos de animais. Não podemos esquecer as técnicas de Shuaijiao técnicas de projeções e quedas, e do Chin-na técnicas de torções e imobilizações.

Estilos externos são iniciados com um treinamento de força muscular, velocidade e aplicação, e geralmente integram conhecimentos de Qigong nos treinamentos avançados, depois que o nível físico desejado já tenha sido alcançado.

Estilos Internos das Artes Marciais Chinesas (內家 – Nèi jiā)

Estilos internos focalizam primariamente a prática do que consideram como elementos internos, como consciência do espírito, da mente e do Nei Gong (內功) ou Potencial Interno. Alguns praticantes de estilo interno dizem que a diferença entre interno e externo é principalmente a distinção do interior e exterior do corpo. A razão para o nome “interno”, de acordo com as escolas, é que há um foco nos aspectos internos, desenvolvimento do Chi ou energia vital, já no início do treinamento. Uma vez apreendidas as relações internas, elas são aplicadas externamente pelo estilo em questão.

Devido ao longo período que os iniciantes são postos a trabalhar nos princípios básicos das escolas internas e, talvez, devido à predominância recente de diversas escolas ocidentais são criticadas pelos conservadores por deixar de lado o treinamento intenso, muitas pessoas passaram a pensar que tais estilos não oferecem o treinamento físico necessário.

Nas escolas conservadoras, entretanto, muito tempo é reservado ao trabalho físico básico, como por exemplo, a “postura da árvore” (Zhan Zhuang), fortalecimento do corpo, além da possibilidade do uso de armas em nível avançado, que podem conter exigências de coordenação extremamente sofisticadas. Além disso, vários estilos internos utilizam treinamentos em duplas, como por exemplo, o Tui Shou.

Os movimentos da maioria dos estilos internos são executados lentamente, embora alguns também incluam movimentos repentinamente explosivos, como aqueles do I-Chuan, Hsing I-Chuan, Tai Chi Chuan e Pa Kua Chang. É claro que em toda história bem poucas pessoas dominaram verdadeiramente esta classe de estilos, na atualidade é muito raro encontrar um mestre de profundo conhecimento no Neijia, quanto mais variedades de técnicas e estilos se treina sem foco, pior será qualidade de quem busca aperfeiçoamento nos estilos internos, mas sua base pode se relacionar tranquilamente com os estilos de sua família, desde que ensinados corretamente.

O Neijia é uma forma de arte marcial ampla que integra muitos sistemas e que tem um caráter simbólico. Cada técnica, movimento e treinamento representa algo mais profundo da natureza do homem e do universo. Filosoficamente mantém seus valores atemporais (justiça, ética, sabedoria, etc.) unidos ao aspecto marcial, deixando de ser apenas um conjunto de técnicas de combate. Quem trilha um caminho de valor, naturalmente se harmoniza com a vida e com o meio.

 A Filosofia Moral nas Artes Marciais Chinesas

 Há um ditado popular no ciclo das artes marciais da China: “Antes de aprender a técnica, aprende-se a etiqueta; antes de praticar as artes marciais, pratica-se a moral”. Durante a longa história, além de teorias e técnicas, as artes marciais chinesas formaram também um sistema de moral bem ligado com elas, que é chamado de “a moral das artes marciais”. Todas as escolas consideram a educação de moral a primeira missão dos praticantes de artes marciais.

Na moral das artes marciais tradicionais, há conteúdos originados do ambiente da sociedade feudal e limitados por ela, por exemplo: as artes marciais eram ensinadas somente para os filhos, não para as filhas; o relacionamento entre escolas diferentes, etc.; mas a parte principal da moral das artes marciais é uma boa referencia até hoje, por exemplo:

 1. O OBJETIVO DAS ARTES MARCIAIS É DEFENDER-SE E NÃO FERIR: As ações das artes marciais eram desenvolvidas visando os pontos fracos do corpo baseando-se em análises profundas das características fisiológicas do corpo humano. Por isso, é possível ferir ou até matar o adversário em combate. Os verdadeiros mestres das artes marciais são sempre muito cuidadosos em combate; eles não lutam se não for absolutamente necessário, e não usam técnicas perigosas se tiverem outra opção. O objetivo das artes marciais não é ferir o oponente, mas se defender das ações agressivas do mesmo. A construção do caractere “marcialidade” na língua chinesa, que consiste em duas partes: “parar” e “o conflito” ou “a arma”, que significa “usar a arte marcial para suprimir a violência”.

Nas técnicas das artes marciais de Shao Lin vale mais a moral do que a força física pura e põe-se ênfase na defesa em vez do atacar, enfatiza-se que as artes marciais servem para fortificar o corpo e se defender, não se pode usá-las para fazer demonstrações ou comparações de bravura.

Na escolha dos alunos e no ensino das artes marciais, os mestres também consideram a moral do aluno a primeira condição. Em todas as escolas, há regras de ensino visando o caráter do aluno.

2. SER VALENTE NO COMBATE PARA MANTER A JUSTIÇA: As artes marciais põem ênfase em se defender, inclusive defender a própria vida, e ajudar outras pessoas a defender a justiça. Isto é um caráter notável dos mestres de artes marciais. Para os mestres, há “três medos e três sem-medos”. Os “três medos” indicam que um praticante de artes marciais não pode lutar contra três tipos de oponentes que são idosos, mulheres e crianças; e os “três sem-medos” indicam que os mestres não podem hesitar na luta contra três tipos de oponentes que se aproveitam do poder para humilhar ou destruir outras pessoas sendo eles os que têm poder, os que têm força, e os que conhecem bem as artes marciais.

3. RESPEITAR, SER VERDADEIRO E HONESTO: Com a influência da cultura e da tradição, as artes marciais chinesas criaram etiquetas sofisticadas. Em uma luta, não importando que seja uma luta entre amigos ou um luta verdadeira contra inimigos, os lutadores sempre fazem saudações antes de começar a lutar, para mostrar o respeito de um pelo outro. As saudações feitas antes da luta variam segundo o status social dos lutadores e a situação.

A luta deve ser honesta e justa. Ataques de surpresa e com armas escondidas são sempre menos prezados pelos mestres de artes marciais em toda a história.

4. AUTOCONTROLE E APERFEIÇOAMENTO: Uma pessoa que conhece bem artes marciais mantém bons modos e modéstia, respeita o oponente e possui autocontrole.

Todas as escolas têm suas disciplinas que cobrem muitos aspectos da vida dos praticantes, por exemplo, não se pode beber excessivamente, não exagerar em sexo, não se pode ser briguento, não se pode correr atrás da fama, nem ser arrogante e impulsivo, não se pode mentir, nem praticar fraude, deve-se respeitar os professores e os idosos, não se pode usar as artes marciais para infernizar a vida de outras pessoas, etc. Por causa deste tipo de disciplina, fala-se que as artes marciais são um modo de viver.

ESTILOS DE ARTES MARCIAIS JAPONESAS

 No Japão as artes da luta também se dividem em três grupos:

BUGEI (武芸) é o sistema é simples, referindo-se a técnicas de guerrear com o aprendizado voltado à manipulação e domínio de equipamentos bélicos tradicionais, como o arco e flecha, os diferentes tipos de espada, lança alabardas, foices, bastões, machados, correntes, dentre vários outros, característicos da época e região.

BUJUTSU (武術) cujo significado é Técnica Marcial ou Ciência da Guerra. São as artes marciais tradicionais e se relacionam a todas as modalidades e técnicas necessárias para o combate corporal. É composto por um conjunto de técnicas militares, incluindo equitação e natação. Foi estabelecido após o período Kamakura japonês (1192-1333), após a chegada da classe Samurai ao poder, sendo sua prática limitada a membros da elite guerreira, cabendo o domínio total das técnicas somente a uma pessoa, o fundador do estilo. Temos como exemplo o Budō Taijutsu, Kenjutsu, Iaijutsu e alguns Ryūs de Ninjutsu.

BUDŌ (武道) é um composto da raiz BU (武), que significa a guerra ou as artes marciais, e DŌ (道), o caminho de sentido ou forma. Juntos, significa Caminho Marcial ou Caminho da Guerra. Especificamente, Do é derivada da sânscrita marga budista (o que significa o “caminho” para a iluminação). O termo remete à ideia de formulação de proposições, submetê-los à crítica filosófica e, em seguida, na sequência de um “caminho” para realizá-los. Não significa um “modo de vida”. Fazer no contexto japonês é um termo experimental, no sentido de que a prática (o modo de vida) é a norma para verificar a validade da disciplina cultivada através de uma determinada forma de arte. O Budō moderno não tem nenhum inimigo externo, só o inimigo interno, uma de ego que deve ser combatido (estado de Mushin-Muga). É uma evolução do Bujutsu, juntamente com o Bugei. Contudo, o Budō foi ainda dividido em duas linhas de evolução: a linha esportiva competitiva e a linha de estudo da técnica marcial, sem o propósito de guerra, evolução característica da arte marcial e outras que se mantiveram desde a antiguidade.

Além disso, Budō e Bujutsu tem ainda diferenças muito delicadas. No Bujutsu, os alunos raramente participam de campeonatos e demonstrações. O sistema de graduações não é tão rígido e regulamentado conforme a idade e o tempo de treino e sim conforme o conhecimento e a capacidade do aluno.

Já no Budō, suas graduações são regulamentadas conforme os estatutos de cada um dos sistemas. As provas são severamente regulamentadas e a graduação depende do tempo de treino e da idade do aluno.

A partir do Xogunato Tokugawa (século XVII), com a estabilização e pacificação do Japão, o Bujutsu começa a perder sua importância como instrumento de guerra e a ganhar uma conotação mais formadora e educacional. Após a restauração Meiji, que terminou com o Xogunato e a sociedade estratificada, a classe guerreira deixou de existir e, assim, nada mais restava das antigas circunstâncias que sustentavam as tradicionais técnicas de guerra. Elas haviam perdido completamente seu propósito original.

Para preservar o patrimônio marcial japonês foram necessárias mudanças para se conformar com os novos tempos. Uma das mudanças foi a dos objetivos. A nova finalidade não poderia ser mais a guerra, já que boa parte das técnicas, já naquela época, eram antiquadas tendo em vista os equipamentos e armamentos modernos. Outra mudança foi em relação ao público que tinha acesso às antigas técnicas: os samurais já não existiam.

A nova finalidade foi explicitar o caráter formador e educacional em detrimento da busca pela eficiência letal. Através do treino das técnicas se cultivaria corpo, mente e espírito para o autodesenvolvimento. E as técnicas estavam abertas para toda a sociedade. Por essas razões, muitas técnicas foram adaptadas e algumas até eliminadas. Não deveriam ser mais, técnicas que visavam à guerra e a morte, exclusivas dos samurais, mas caminhos educacionais para o aperfeiçoamento humano que estavam ao alcance de qualquer um. Esta é a origem do Budō.

O Judô (柔道) foi um dos primeiros Budō modernos. Jigoro Kano percebeu o valor educacional do Budō e, no caso dele, compilou diversos estilos de Jujutsu e idealizou uma disciplina para o novo Japão.

Seguindo este exemplo, vieram diversas outras como o Kendô (剣道), o Iaidô (居合道), o Kyudô (弓道), o Naginata-do (薙刀道), o Aikidô (合気道), o Karatê-do (空手道) e assim por diante.

taifujutsu.blog.com

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