terça-feira, 7 de janeiro de 2014

Bodhidharma


Bodhidharma (1685-1768)

Não existem registros escritos precisos sobre a origem das artes marciais, no entanto, 
acredita-se que elas tenham suas raízes mais remotas na Índia, há mais de dois mil anos 
atrás. Há indícios de que nessa época tenha surgido a primeira forma de luta organizada, 
chamada de Vajramushti, que seria um sistema de luta de guerreiros indianos. 
A história das artes marciais começa a tomar uma forma mais concreta a partir do 
século VI, quando no ano 520 A.D. um monge budista indiano chamado Bodhidharma - 
28º patriarca do Budismo e fundador do Budismo Zen - deixou seu país e partiu numa 
longa jornada em busca da iluminação espiritual. Bodhidharma (conhecido no Japão 
como Daruma) viajou da Índia para a China, pernoitando nos templos que encontrava 
pelo caminho e pregando sua doutrina aos monges ou a quem quer que fosse. 
Depois de ter perambulado por boa parte do território chinês, o destino o conduziu ao 
Templo Shaolin, localizado na província de Honan. Diz a lenda que, ao penetrar no 
velho mosteiro, Bodhidharma deparou-se com a precária condição de saúde dos 
monges, fruto de sua inatividade. Foi então que ele iniciou os monges na prática de uma 
série de exercícios físicos, ao mesmo tempo em que transmitia-lhes os fundamentos da 
filosofia Zen, com o objetivo de reabilitá-los tanto física quanto espiritualmente. 
Os exercícios ensinados por Bodhidharma eram baseados em métodos de respiração 
profunda e yoga, e seus movimentos se assemelhavam a técnicas de combate. A prática 
desses exercícios logo tornou-se uma tradição no templo, vindo mais tarde a atingir um 
estado de evolução tal que pôde ser considerada como um verdadeiro e completo 
sistema de autodefesa: o Shaolin Kung Fu, que no Japão é conhecido como Shorinji 
Kenpo. 
Esta arte marcial em ascensão logo mostrava sua eficiência, primeiro com relação à 
reestabelecida saúde dos monges, e segundo como método de defesa pessoal 
propriamente dito, posto em prática contra bandoleiros que por vez ou outra saqueavam 
o templo, de quem os monges em outros tempos eram considerados presas fáceis. 
A reputação dos monges lutadores logo se espalhou pela China, fazendo com que o 
Shaolin Kung Fu se difundisse amplamente pelo país, principalmente durante a Dinastia 
Ming (1368-1644), vindo mais tarde a conquistar outros países da Ásia e a dar origem a 
outros estilos de artes marciais, como o Karate em Okinawa.

Biografia

Daruma ou Bodaidaruma é o nome japonês de Bodhidharma, o mestre indiano que viveu no séc. V ou VI dC. É o primeiro patriarca do Zen chinês (Ch'an) e o 28.º na linhagem do Budismo Indiano iniciada por Buda Shakyamuni. É ainda considerado o introdutor das artes marciais nos templos Shaolin. 

A tradição conta que Bodaidaruma pertencia à casta dos guerreiros, e era o terceiro filho do rei Koshi. O seu nome de nascimento era Bodaitara (“A Pérola da Suprema Iluminação”) e desde cedo o brâmane Hannyatara verificou a sua predisposição para a prática do Buddhadharma. Contudo, só depois da morte do pai, e após passar sete dias em samadhi, Bodaitara se dirigiu a Hannyatara para receber os preceitos. Desde logo revelou a sua maturidade na prática, e Hannyatara deu-lhe o nome de Bodhidharma (“Aquele cuja Iluminação é Toda-Penetrante”) e profetizou quanto ao caminho que deveria seguir. Depois do Parinirvana do mestre, Daruma deveria viajar até à China para aí transmitir o Dharma. Permaneceu assim junto de Hannyatara durante cerca de quarenta anos, até que a ligação kármica com a China amadureceu e Daruma partiu de barco numa viagem que duraria cerca de três anos. Aportou em Nankai, na costa sul da China e foi recebido pelo Imperador, que lhe perguntou quais os méritos que tinha acumulado ao construir templos, publicar sutras e ao ajudar a Sangha, ao que Daruma respondeu: “Nenhum que se veja!”. O Imperador perguntou-lhe então: “Qual é a essência do Budismo?” “Vasto vazio e nenhuma essência”. Finalmente, o imperador indagou: “Já que dizes que no Budismo as coisas não têm essência, então quem está a falar diante de mim?” e a resposta veio da mesma forma abrupta: “Não sei!”. 

Daruma viajou para o Norte e atravessou o rio Yangtze, de acordo com a previsão de Hannyatara. Aí instalou-se no Templo Shaolin Shorin-ji, onde praticou ininterruptamente durante 9 anos, sentado diante de uma parede. Durante esse tempo de meditação, os membros ter-se-iam atrofiado e mesmo caído. Segundo outra história Bodhidharma teria cortado as pálpebras por ter adormecido e ao atirá-las para o chão estas deram origem... ao chá verde. Mais prosaicamente, outra versão indica que Bodhidharma teria trazido alguns pés da planta do chá para a China. Em todo o caso, o chá ficou para sempre ligado à cultura Zen. 

Teve poucos discípulos, tendo a linhagem sido transmitida a Hui-k'o. Alguns anos depois da sua morte, um oficial chinês relatou ter encontrado Bodhidharma nas montanhas da Ásia central. Transportava um bastão do qual pendia uma só sandália e disse ao oficial que ia de volta para a Índia. Quando souberam desta história, os monges abriram o seu túmulo. Só lá estava uma sandália. Estas e outras histórias, algumas contraditórias, explicam a iconografia de Daruma, representado frequentemente com metade do corpo, olhos esbugalhados (sem pálpebras), ou transportando uma sandália. Quando lhe perguntaram quanto tempo levou a pintar o retrato de Daruma, Hakui respondeu: "dez minutos e oitenta anos".

Nos escritos que se lhe atribuem, disse: "A única razão da minha vinda à China foi para transmitir o ensinamento súbito do Mahayana. Esta mente é o Buda. Não falo sobre preceitos, devoções ou práticas ascéticas como a imersão na água e no fogo, pisar uma roda de facas, comer uma refeição por dia ou nunca se deitar. Estes são ensinamentos fanáticos e provisórios. Uma vez que reconheças a tua, sempre em movimento, milagrosamente consciente natureza, a tua é a mente de todos os Budas". 


Daruma e o Zen

Bodhidharma ensinava que a iluminação não se encontra em livros ou rituais, mas no interior de nós mesmos. E através da meditação limpamos os véus do obscurecimento e recordamos a nossa natureza de Buda. 

Bodhidharma definiu o Zen como uma transmissão especial para além das escrituras, que não depende de palavras ou letras, mas aponta directamente para a mente, vendo a nossa verdadeira natureza e alcançando a Iluminação ("A special transmission beyond Scriptures, Not depending on words or letters, But pointing directly to the Mind, Seeing into one's true Nature, And realizing one's own Enlightenment").

Esta mente é por ele descrita como, desde tempos sem começo, nunca ter mudado. "Nunca viveu ou morreu, apareceu ou desapareceu, cresceu ou diminuiu. Não é pura nem impura, boa ou má, passado ou futuro. Não é verdadeira nem falsa. Não é macho ou fêmea. Não surge como um monge ou um laico, um ancião ou um noviço, um sábio ou um louco, um buda ou um mortal. Não procura a realização e não experimenta o karma. Não tem solidez ou forma. É como o espaço. Não o possuis e não o perdes. Os seus movimentos não podem ser bloqueados por montanhas, rios ou rochas. Nenhum karma pode restringir este corpo real. Mas esta mente é subtil e difícil de ver. Não é o mesmo que a mente dos sentidos. Todos querem ver esta mente e os que movem os pés e as mãos à sua luz são tão numerosos como as areias do Ganges, mas quando lhes perguntas, não conseguem explicá-la. Pertence-lhes e usam-na. Mas porque não a podem ver?... Só os sábios conhecem esta mente, esta mente chamada natureza do dharma, esta mente chamada libertação. Nem a vida nem a morte a pode libertar. Nada pode. Também se chama o Imparável Tathagata, o Incompreensível, o Eu Sagrado, o Imortal, o Grande Sábio. O nome varia mas não a essência." 


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Dados biográficos recolhidos de Denkoroku, The Record of the Transmission of Light, da autoria do Mestre Zen Keizan Jokin
Citações traduzidas livremente de The Zen Teaching of Bodhidharma
Para mais reproduções de Daruma, ver www.shambhala.com/zenart

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